terça-feira, 19 de outubro de 2010

Difícil de Entender


Hoje me deu vontade de escrever um pouco sobre depressão.
Não sei explicar se a vontade veio por eu já ter passado por isso ou por observar a dificuldade que as pessoas têm em aceitar que a depressão não é frescura, é doença.
Antes de mais nada, deixo claro que esse texto foi produzido a partir da minha própria experiência e não tem nenhum compromisso com o "científico".

As doenças de ordem psíquica são difíceis de tratar e mais difíceis ainda de entender.

Quando alguém começa a apresentar alguns sintomas característicos da depressão, as que estão ao redor costumam dizer: “pense que você é isso e aquilo”, “arrume o que fazer”, “olhe ao redor e veja o quanto seu problema é pequeno”, “observe o quanto de coisas boas acontecem com você”, e, sem querer, acabam piorando as coisas, pois sentindo que quem está próximo não entende, a pessoa em questão tende a se sentir culpada pelo que está sentindo e acaba se isolando mais ainda.

Claro que não se pode culpar quem está ao redor, e querendo ajudar, por achar que é simples, afinal, só quem já passou pelo problema pode saber realmente como é. E falando francamente, só sabendo como se sente alguém que passa por isso ou sendo muito sensível para evitar o "julgamento" de que tudo não passa de frescura.

Os amigos e familiares são preciosos no processo de recuperação, mas é bom que todos estejam com as mentes bem abertas para avaliar bem a situação antes de meter os pés pelas mãos e tratar a coisa toda com frescura. No geral, não é tão difícil assim ajudar. A compreensão, paciência e o estar junto, mesmo que em silêncio, já é de grande importância, pois saber que não está sozinho, saber que existem ouvidos dispostos a ouvi-lo quando sentir a necessidade de botar para fora o que está dentro e fazendo mal, já é um grande alívio.

Vou dizer algo aqui com toda propriedade do mundo: o poder que te coloca para baixo, em uma depressão, é muito maior que qualquer pensamento positivo que você queira ou possa ter, é algo que você simplesmente não consegue controlar. Quando a doença se instala, ganhar na mega sena ou conhecer um gatinho não fará muita diferença, pois o "trauma" que gerou a doença ainda estará dentro da pessoa e enquanto esse "trauma" não for resolvido não haverá cura.

Não estou dizendo que a pessoa tem que se entregar, estou dizendo que não é fácil, que é preciso tempo para encontrar a força, que habita dentro de todos nós, para reverter à situação, estou dizendo que falar para o espelho “eu sou linda, sou amada, tenho sorte” não resolve o problema como em um passe de mágica, pois um “poder” muito maior dentro da pessoa, e orgânico, faz essas afirmações serem apenas palavras ao vento, sem força alguma.

Algumas pessoas conseguem, sozinhas, reunir a força necessária para dizer as frases para o espelho acreditando realmente nelas e revertendo o quadro, mas para a grande maioria a jeito é procurar ajuda profissional. Esse profissional determinará o melhor tratamento a seguir: terapia ou terapia + Medicação.

Na terapia, basicamente, se trabalha o localizar o problema que gerou a doença, o entendimento do mesmo, onde procurar a força necessária para resolvê-lo e como usá-la.

Quando a terapia não resolve, os antidepressivos entram em cena. Eles, os remédios, bloqueiam a angústia, a ansiedade... é mais ou menos assim: você sente a tristeza, mas seu corpo não reage a ela, seu corpo não se entrega a ela, então, você não sente a fraqueza, com também não sente outras coisas. Em outras palavras, a medicação te deixa em estado de torpor, a tristeza se torna superficial, como também todos os outros sentimentos. Ajuda? Sozinhos os antidepressivos não ajudam muito, mas associados a terapia ajudam bastante, pois é bem mais fácil usar a força que você encontrou em si mesmo quando já não se sente tão arrasado, com sono, irritado e ansioso. A medicação é meio que um paliativo. É necessária, mas não resolve o problema. Se ficar só na medicação a pessoa corre o risco de ficar eternamente em estado de torpor. Não se sente tão mal, mas também não cura, pois não existe cura se o estado geral melhora, mas o problema ainda está mal resolvido dentro da pessoa.

De acordo com a evolução do tratamento terapêutico a medicação vai sendo regredida gradativamente. Todo o processo leva tempo e não é fácil, vale salientar.

PS: Lembro outra vez que estou me baseando na minha própria situação. Existem vários níveis de drepressão e de tratamento.

Como a vida não é nada fácil, a coisa toda não termina depois do tratamento.

Depois que se cura de uma depressão é necessário se preocupar com outra coisa: o medo. O medo de cair outra vez.

O medo é sorrateiro, ele se aproxima devagar e a pessoa só se da conta que ele existe quando se depara com determinadas situações e se vê paralisada, tremula e com taquicardia. A reação quase que imediata a essas sensações é querer recuar.

As sensações que se sente a principio vêm do reconhecimento da situação “perigo”, remete as situações ruins que foram vividas e a reação a elas é instintiva, de proteção, pois a pessoa não quer sentir dor novamente.

O medo é uma das piores sensações que alguém pode sentir, em minha opinião, pois é a antecipação de um sofrimento, relacionada a uma situação ruim que você nem sabe se irá, de fato, viver. O medo te faz querer recuar, se fechar em um mundinho somente seu, onde ninguém pode te ferir. Não resistir a esse impulso de se recolher te trava, te impede de seguir, de enfrentar um problema sabendo que pode vencê-lo, de se dar a oportunidade de viver novas e, quem sabe, boas experiências.

Sair de uma depressão e não conseguir seguir adiante por medo, podendo inclusive, ter outra depressão por esse motivo não é algo bom.

Infelizmente, quem ja enfrentou uma depressão dificilmente voltará a ser a mesma pessoa que era antes dela. Eu não sou.

Em virtude da experiência que passei tenho consciência do tamanho da força que tenho e da minha capacidade de superar as situações mais difíceis que possam me aparecer, mas preciso me manter atenta ao que acontece ao meu redor, preciso evitar que os problemas se acumulem dentro de mim, preciso saber a hora de parar e reavaliar meu comportamento, e estou sempre buscando o equilíbrio... não posso deixar de viver, mas também não posso deixar de ser cautelosa.

Continuo a me considerar uma pessoa corajosa, mas não mais em todos os aspectos... sinto todas aquelas sensações de medo que descrevi ali em cima quando me deparo com algumas situações... eu não quero mais sentir aquela angústia que eu sentia, não quero mais ser julgada de forma errada e por algo que eu não conseguia dominar.

Enfim, aos que passaram por essa experiência e deram a volta por cima, com eu, um brinde, e aos que ainda estão passando pela doença ou caminhando com dificuldade, muita força e paciência... com vocês mesmos e com os que estão ao redor!

20/10/10

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